MEMÓRIA AFETIVA
Entre meados das décadas de 1950 e 1960, muitos fotógrafos e jornalistas estrangeiros foram enviados a Brasília para documentar a construção da ''capital da esperança''.Imagens produzidas por nomes como René Burri e Frank Scherschel aparecem aqui após terem sido reapropriadas e processadas pelo Deep Angel ↗︎, uma ferramenta de inteligência artificial desenvolvida pelo MIT ↗︎ capaz de identificar e apagar pessoas de fotografias. Os candangos, como eram chamados os trabalhadores que construíram a cidade, foram removidos automaticamente dos registros fotográficos. Observe-se que essa remoção não foi capaz de evitar os glitches que distorcem a paisagem e deixam uma cicatriz onde antes houvera corpos. Em algumas imagens permanece a presença de um ou outro trabalhador porque o software não reconheceu suas formas como humanas – outra falha que igualmente acusa o apagamento da humanidade dessas figuras.
O apagamento dos operários anônimos em seu cotidiano de trabalho coloca em evidência a impressão de que Brasília, enquanto símbolo da modernização do país, apontava somente para a forma estética do seu resultado. Deve-se estranhar a ideia de que essa cidade parecesse se construir sozinha ou somente com a força intelectual de seus idealizadores, enquanto ignorava os processos sociais e políticos necessários para a sua realização.
Marcel Gautherot, 1960
Marcel Gautherot, 1960
Frank Scherschel, 1960
René Burri, 1960
René Burri, 1960
René Burri, 1960
Marcel Gautherot, 1960
Peter Scheier, 1960
Frank Scherschel, 1960